dois mil e vinte me aproximou das temáticas que eu anotava enquanto concluía a graduação em Serviço Social. lembro que o bloco de anotações estava repleto de "como eu posso investigar a fotografia? qual caminho percorrer nesse sentido de pesquisa?". esses novos olhares me levaram à faculdade de novo, só que agora enquanto jornalista em formação e pesquisadora em fotografia num grupo composto por mulheres do país todo. me alegro a cada descoberta, trecho anotado, dúvidas que surgem. e nesse meio bonito de novas autoras a serem descobertas e séries fotográficas para admirar, foi a obra de Virgínia Woolf, Um teto todo seu, que conheci primeiro. com uma escrita que me acolheu e imagens feitas durante a leitura quero partilhar as próprias palavras de Woolf sobre autoconfiança, a insegurança masculina/tentativas de dominação para com nós mulheres e como esse sentimento se dava na época em que a palestra da autora foi escrita - observando o quanto isso ainda é tão presente nos dias de hoje.
// sobre o livro: na década de 1920, Virgínia Woolf, já uma autora de renome, é convidada a palestrar em duas faculdades inglesas exclusivas para mulheres [...]. a partir do tema "As mulheres e a ficção", Woolf elege como foco de sua exposição a tradição imperativa do patriarcado, descortinando em que medida a falta de recursos financeiros e de legitimidade cultural a que as mulheres eram submetidas compunha um cenário desencorajador para que elas escrevessem ficção.

a vida para ambos os sexos [...] é árdua, difícil, uma luta perpétua. requer coragem e força gigantescas. mais que qualquer coisa, talvez, criaturas da ilusão que somos, ela requer confiança em si mesmo. sem autoconfiança, somos como bebês no berço. e de que modo podemos adquirir essa qualidade imponderável, que também é tão inestimável, o mais rápido possível? pensando que as outras pessoas são inferiores [...]. por isso a enorme importância para o patriarcado de ter que conquistar, ter de governar, de achar que um grande número de pessoas, metade da raça humana, na verdade, é por natureza inferior. deve ser realmente uma das principais fontes de seu poder.
as mulheres têm servido há séculos como espelhos, com poderes mágicos e deliciosos de refletir a figura do homem com o dobro do tamanho natural. sem esse poder, provavelmente a terra ainda seria pântanos e selvas.
seja qual for o seu uso nas sociedades civilizadas os espelhos são essenciais para todas as ações violentas e heróicas. é por isso que tanto Napoleão quando Mussolini insistiam tão enfaticamente na inferioridade das mulheres, pois, se elas não fossem inferiores, eles deixariam de crescer [...]. isso explica, em parte, a necessidade que as mulheres representam para os homens. e serve para explicar como eles ficam incomodados com as críticas delas, [...] pois se ela resolver falar a verdade, a figura refletida no espelho encolherá; sua disposição para a vida diminuirá.
a alegoria do espelho é de importância suprema porque recarrega a vitalidade, estimula o sistema nervoso. exclua isso e o homem morre como viciado em cocaína quando privado da droga.
hoje eu deixei que Virgínia falasse. me tocou de vários modos ter que lê-la pela primeira vez. falar sobre autoconfiança e a maneira perversa em como o patriarcado tenta nos convencer sobre as suas barbaridades é difícil, por outro lado, isso releva o tamanho da necessidade/importância que esses diálogos têm. apesar do ano em que esse ensaio foi escrito ainda é tão atual termos atenção e abraçar palavras como as de Woolf. algumas barreiras são maiores, por isso mesmo deixar em evidência essas conversas é sempre especial.
aproveito e pergunto: vocês têm conseguido realizar leituras? qual livro marcou o caminho de vocês até aqui?
Esse livro da Woolf está na lista de livros que pretendo ler. Quanto às minhas leituras vigentes: estão indo aos tropeços. Vários livros pela metade aos quais pretendo retornar nas férias. Mas anteontem finalizei "A cor púrpura", da Alice Walker, e olha... é fantástico. Inclusive para pensar o feminismo também!
ResponderExcluirSuas fotos são sempre esplêndidas.
Um abraço,
Larissa
As moscas na janela ♥
os trechos citados me fizeram refletir conceitos que nunca tinha pensado. obrigada por isso!
ResponderExcluiresse ano consegui ler bastante, bem mais do que imaginei. tive leituras bem marcantes, mas destaco a última, "anne de green gables", que me fez viajar de forma deveras confortante.
seus posts sempre me tocam ♡
abraços,
any.
Poetiza-te
amiga, virginia woolf anda me perseguindo nos últimos dias. só hoje esse é o terceiro post que vejo sobre ela e esse livro. aceitando os sinais do universo pra finalmente começar essa leitura. amei o post e as palavras dela que compartilhou ♥
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